“Dia do Fogo” de 2019 tem investigações arquivadas

 

Depois de 5 anos, as duas investigações sobre o caso foram arquivadas no primeiro semestre deste ano e responsáveis seguem sem punição

 Por Redação InFluxo Ambiental

Após 5 anos de sua ocorrência em 2019, o chamado “Dia do Fogo” teve suas investigações em nível federal arquivadas sem que houvesse punição às pessoas responsáveis. De acordo com o Ministério Público Federal do Pará (MPF-PA), as investigações não tiveram êxito na obtenção de elementos convincentes para a denúncia pelo MPF. A informação somente foi levada ao conhecimento em agosto deste ano, porém, segundo o MPF-PA, os inquéritos foram arquivados em fevereiro e em junho. 

Impunidade

O caso do "Dia do Fogo", ocorrido em 2019, tornou-se um exemplo emblemático de impunidade no Brasil. Apesar das investigações conduzidas pelo Ministério Público Federal (MPF) e outros órgãos, as ações penais não resultaram em condenações. De acordo com relatórios do Greenpeace, mais de 65% das propriedades envolvidas foram embargadas por diversas infrações, mas apenas 10,47% desses embargos foram relacionados ao uso ilegal do fogo. Além disso, das 662 multas ambientais aplicadas, que somam quase R$ 1,3 bilhão, apenas cerca de R$ 41 mil foram efetivamente pagos. Esses números indicam uma falha significativa no sistema de responsabilização e execução das leis ambientais, que permite a continuidade dos crimes ambientais na região​.

A impunidade em casos como o do “Dia do Fogo” não é um fenômeno isolado. Ela reflete um padrão recorrente de falta de ação efetiva contra crimes ambientais no Brasil. Muitos dos responsáveis por desmatamentos e queimadas ilegais continuam operando livremente, muitas vezes com apoio de redes locais que dificultam o cumprimento das leis. A ausência de uma resposta judicial firme e exemplar cria um ambiente propício para a continuidade dessas práticas, minando os esforços de conservação da floresta e desmoralizando as instituições encarregadas de sua proteção.

Além disso, a impunidade no “Dia do Fogo” levanta questões sobre a capacidade das autoridades em atuar com crimes ambientais complexos e organizados. A dificuldade em reunir provas, a pressão política e a falta de recursos para investigações profundas são alguns dos fatores que contribuem para o arquivamento de processos. Esse contexto evidencia a necessidade urgente de fortalecer os mecanismos de fiscalização e de investir na capacitação de órgãos responsáveis por combater o desmatamento e as queimadas.

A falta de punição também tem um impacto direto sobre a percepção pública da seriedade com que o governo brasileiro da época tratou a questão ambiental. Quando casos emblemáticos como o “Dia do Fogo” terminam sem responsabilização, há um enfraquecimento da confiança na justiça e uma mensagem implícita de que crimes contra o meio ambiente não são prioritários. Essa percepção pode ter consequências graves, como o aumento da pressão internacional e a perda de credibilidade do Brasil em acordos e negociações ambientais globais.

O “Dia do Fogo”

O "Dia do Fogo" foi marcado pela queima coordenada de grandes áreas da Amazônia, envolvendo cerca de 1.500 focos de incêndio em propriedades rurais do Pará. A articulação foi feita por meio de grupos de WhatsApp e contou com a participação de produtores rurais que, segundo relatos, se sentiram encorajados pelo discurso permissivo do então presidente Jair Bolsonaro. As queimadas tiveram como objetivo abrir espaço para o avanço da agropecuária, resultando em um aumento de quase 2.000% nos focos de calor na região em comparação com o mesmo período do ano anterior. Mesmo com alertas prévios e a notificação do Ibama, as medidas de fiscalização não foram suficientes para impedir a devastação.

 

 

O “Dia do Fogo”, organizado por produtores rurais, foi um dos maiores crimes ambientais brasileiros - Foto: Shutterstock

 

O “Dia do Fogo” foi mais do que um ato isolado de desmatamento; foi um símbolo da crescente agressividade com que setores interessados na expansão agropecuária e no domínio de terras têm atuado na Amazônia. A coordenação das queimadas entre diferentes grupos mostra um nível de organização e planejamento que surpreendeu as autoridades e a sociedade. Esse evento se tornou um marco na escalada das queimadas na região, refletindo uma estratégia de uso do fogo como ferramenta para a apropriação e transformação de áreas florestais em pastagens.

O impacto ambiental do “Dia do Fogo” foi devastador. Milhares de hectares de floresta foram destruídos, contribuindo para o aumento das emissões de gases de efeito estufa e a perda de habitat para inúmeras espécies. Além disso, as queimadas causaram problemas de saúde nas populações locais, que sofreram com a fumaça intensa, além de prejuízos econômicos devido à destruição de recursos naturais e das áreas de produção sustentável. Esse episódio evidenciou a fragilidade da Amazônia frente à pressão econômica e a necessidade de uma resposta mais eficiente e coordenada para sua proteção.

Embora o “Dia do Fogo” tenha sido amplamente condenado tanto no Brasil quanto no exterior, a falta de consequências legais para os responsáveis revela uma lacuna significativa na aplicação das leis ambientais. Essa falha enfraquece os esforços para conter o desmatamento e dá margem para que novos episódios semelhantes ocorram. Sem uma mudança substancial na abordagem das autoridades, o “Dia do Fogo” corre o risco de se repetir, com consequências ainda mais graves para o meio ambiente e para as comunidades amazônicas.

Luta de ambientalistas

Desde o "Dia do Fogo", ambientalistas têm enfrentado uma dura batalha para frear a destruição da Amazônia. Organizações como o Greenpeace denunciam a continuidade das queimadas e desmatamentos nas mesmas propriedades envolvidas no incidente de 2019. A expansão descontrolada da agropecuária, especialmente a criação de gado, continua a ameaçar vastas áreas de floresta. Além disso, há críticas ao sistema financeiro, que concedeu mais de R$ 200 milhões em crédito rural para propriedades relacionadas ao "Dia do Fogo", sem garantir que esses recursos não fossem usados para promover mais desmatamentos e queimadas

Os ambientalistas, apesar dos desafios, continuam a desempenhar um papel crucial na defesa da Amazônia. Mesmo diante do arquivamento das investigações, eles persistem na busca por justiça, denunciando a impunidade e pressionando por mudanças estruturais que garantam a proteção da floresta. Essas organizações, muitas vezes trabalhando em condições adversas e sob ameaças, têm sido responsáveis por manter a atenção sobre a Amazônia, mobilizando a sociedade civil e a comunidade internacional em prol da preservação.

 

Ambientalistas têm enfrentado desafios na luta pela preservação da Amazônia, buscando por justiça e pressionando os governos - Foto: Claudia Martini/Futura Press/Folhapress

 

A luta dos ambientalistas também inclui a promoção de alternativas sustentáveis ao desmatamento e às queimadas. Projetos de desenvolvimento sustentável, como o manejo florestal comunitário e a valorização dos produtos da biodiversidade, são defendidos como caminhos viáveis para conciliar a conservação da floresta com o desenvolvimento econômico das populações locais. Esses esforços são fundamentais para mostrar que é possível preservar a Amazônia e contribuir com o progresso econômico, desafiando a narrativa de que o desmatamento é inevitável para o crescimento.

Além da atuação no campo e em projetos comunitários, os ambientalistas têm buscado fortalecer as redes de apoio e proteção para aqueles que defendem a floresta. A criação de coalizões entre ONGs, movimentos sociais e representantes de comunidades indígenas e tradicionais tem sido uma estratégia eficaz para amplificar a voz de quem luta pela Amazônia. Essas alianças têm sido essenciais para enfrentar os ataques e retrocessos nas políticas ambientais, além de pressionar por maior transparência e rigor na aplicação das leis. 

O Futuro da Amazônia

O futuro da Amazônia permanece incerto, com desafios contínuos para a preservação de um dos ecossistemas mais importantes do planeta. A falta de punição efetiva para os crimes ambientais cometidos durante o "Dia do Fogo" cria um precedente perigoso, incentivando a repetição desses atos. Além disso, a crescente pressão do agronegócio sobre a floresta aponta para um aumento contínuo do desmatamento e das queimadas nos próximos anos. Contudo, há uma crescente mobilização da sociedade civil e de organizações ambientais que pressionam por mudanças nas políticas de crédito e na fiscalização para proteger a Amazônia. O envolvimento mais ativo do governo e da comunidade internacional será essencial para reverter esse cenário e garantir a preservação da floresta para as futuras gerações

O futuro da Amazônia depende, em grande parte, da capacidade de implementar políticas públicas eficazes que combinem preservação ambiental com desenvolvimento sustentável. É necessário um compromisso firme das autoridades para reforçar a fiscalização, combater a impunidade e apoiar iniciativas que promovam o uso sustentável dos recursos naturais. Investir em tecnologia e em capacitação de profissionais que atuam na linha de frente da proteção ambiental é fundamental para reverter o cenário atual e garantir que a floresta continue a desempenhar seu papel vital na regulação do clima global e na conservação da biodiversidade.

Além disso, o engajamento internacional é fundamental para assegurar que a proteção da Amazônia seja uma prioridade global. A pressão externa, aliada à cooperação em projetos de conservação e desenvolvimento sustentável, pode ajudar a fortalecer as iniciativas locais e garantir que a floresta seja preservada para as futuras gerações. No entanto, essa cooperação deve ser acompanhada de respeito à soberania e aos direitos das populações tradicionais, que são os verdadeiros guardiões da Amazônia. O desafio é grande, contudo a preservação da maior floresta tropical do mundo é uma responsabilidade coletiva, que exige ação imediata e comprometimento duradouro.



 


 

 


 

 


 
 


 








 


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