Com um viés de inovação e preservação ambiental, o agronegócio tem se voltado para fontes renováveis e maquinário sustentável, a fim de garantir uma produção assertiva e menos impactante
O agronegócio brasileiro, um dos maiores pilares da economia nacional, inicia agora uma nova fase: a da transição energética. Em meio aos vários debates intensificados sobre mudanças do clima, sustentabilidade e segurança energética, a aplicação de fontes limpas como a solar, eólica e o biogás tem avançado no campo. Ao mesmo tempo, os fabricantes de máquinas agrícolas estão investindo em inovações por meio de máquinas acionadas por energia renovável, mais eficientes e com menores índices de poluentes.
Essa articulação entre tecnologia e responsabilidade ambiental transforma a cultura rural e avança no caminho para um agronegócio mais moderno e comprometido com o futuro do planeta.
Energia solar e novas possibilidades
A energia solar aparece como o principal pilar para a sustentabilidade do campo. De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), até o início de 2025, mais de 300 mil propriedades rurais implementaram sistemas fotovoltaicos, principalmente para função de irrigação, resfriamento de leite, bombeamento de água e iluminação.
"Antes, queimávamos mais de R$ 5 mil mês, só de conta de energia. Agora, usamos os painéis solares para alimentar boa parte das atividades da fazenda", conta Adriana Souza, produtora de hortaliças em Minas Gerais. “Foi uma guinada em nossa produção”, acrescenta.
A adoção das placas solares, juntamente com as linhas de financiamento voltadas para o agronegócio, como o Programa ABC+, estimulou os produtores de diferentes perfis. A instalação tem retorno financeiro garantido de 3 a 5 anos e propicia maior autonomia das propriedades, principalmente as mais afastadas.
Máquinas sustentáveis
A revolução energética no campo inclui fontes de energia e avança em relação ao maquinário. Fabricantes como New Holland, John Deere, Valtra e AGCO estão desenvolvendo ou testando tratores que funcionam com biometano, diesel verde e até eletricidade, a fim de reduzir as emissões de carbono e de combustíveis fósseis.
A New Holland, por exemplo, apresentou o T6 Methane Power, trator movido a biometano gerado a partir de resíduos da própria fazenda, como dejetos de animais. A inovação permite ao produtor transformar resíduos em combustível, reduzindo custos e impactos ambientais.
"É a economia circular acontecendo na prática", afirma Lucas Andrade, engenheiro agrônomo e consultor técnico da Embrapa. “Os resíduos que antes eram um problema agora se tornam solução de energia”, informa.
Além dos tratores, drones com energia solar, sensores de irrigação inteligente e colheitadeiras com menor emissão de CO₂ demonstram como a tecnologia limpa está redesenhando o modelo produtivo rural.
Biogás e energia eólica
Mesmo ainda sendo menos comuns que a solar, outras fontes limpas estão começando a ser incorporadas às atividades agrícolas. O biogás, gerado a partir da decomposição de resíduos orgânicos, tem sido utilizado em fazendas com grande volume de criação animal ou de resíduos vegetais. Já a energia eólica, apesar de ter encontrado mais espaço em áreas costeiras, está começando a ser explorada pelos grandes produtores e pelas cooperativas em regiões beneficamente localizadas, como o Nordeste.
Empresas como a Raízen e a Usina São Martinho já atuam em plantas de bioenergia integradas às lavouras de cana-de-açúcar, sendo expressivos os resultados na redução de emissões e no excedente de energia gerada para a rede pública.
Desafios persistem
Apesar do crescimento, o acesso à energia limpa ainda possui barreiras, especialmente entre pequenos produtores. O custo inicial de instalação dos sistemas fotovoltaicos ou de compra de maquinário sustentável permanece alto, mesmo que existam linhas de crédito rural. Além disso, muitos produtores ainda carecem de informações técnicas sobre como implementar e manter essas tecnologias.
"Temos um gargalo da assistência técnica. Precisamos investir em capacitação para que esta solução seja usada pelo pequeno e médio produtor", enfatiza Carla Menezes, pesquisadora em sustentabilidade agroambiental.
Outra questão é a infraestrutura energética em regiões rurais, que não se mostra capaz de garantir uma integração eficiente das fontes renováveis com a rede elétrica nacional.
Caminho sem volta
Os especialistas são enfáticos ao dizer que a mudança para fontes limpas no agronegócio não se trata de uma tendência passageira e sim de uma necessidade estratégica, uma vez que a pressão de mercados internacionais por cadeias produtivas sustentáveis, somada ao esforço mundial para combater as emissões de gases do efeito estufa, aceleram tal mudança.
“O Brasil tem grande potencial para ser o protagonismo na produção agrícola sustentável no mundo”, afirma Rafael Vilela, coordenador do Programa de Energia Renovável no Agro da FGV. “Temos sol, biomassa e conhecimento técnico. Agora é uma questão de integrar políticas públicas, incentivos e educação”.
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