Salmão selvagem da Noruega está à beira da extinção: a aquicultura industrial é a maior ameaça a essa espécie
O símbolo dos fiordes noruegueses está em declínio acentuado devido à expansão da piscicultura, às alterações climáticas e a políticas ambientais negligentes
Por Redação InFluxo Ambiental
O salmão selvagem da Noruega, uma das espécies mais representativas da vida marinha no Atlântico Norte, está passando por uma lenta e preocupante extinção. A queda populacional está sendo verificada nos rios e nos fiordes do país escandinavo, principalmente na última década, além de estar direta e indiretamente associada com a expansão da aquicultura industrial.
Segundo pesquisadores, o desenvolvimento das fazendas de salmão que hoje dominam a produção mundial da espécie, favorece a proliferação de doenças, infestação por piolhos-do-mar e degradação dos habitats naturais. O alerta da crise foi dado em comunicados recentes divulgados por organizações ambientais norueguesas e internacionais.
A tradição em perigo
O salmão selvagem da Noruega é muito mais do que um peixe - ele simboliza uma tradição cultural, econômica e ambiental ligadas à identidade nacional da Noruega. Durante séculos, essa espécie foi um símbolo de abundância e de resistência, enfrentando os desafios de uma jornada de milhas no mar e nos rios onde ela nasce.
De acordo com dados atuais alarmantes, cerca de seis entre dez populações selvagens de salmão estão em significativo declínio, sendo algumas ameaçadas de colapso, segundo relatório do Diretório Ambiental Norueguês publicado, em 2025. O relatório aponta a aquicultura como a principal causa dessa situação.
"A pressão é insustentável. O modelo atual de produção de salmão em cativeiro ignora as fronteiras ecológicas e apresenta riscos à biodiversidade nativa", advertiu o biólogo marinho Lars Bergström, do Instituto Norueguês de Pesquisa Marinha.
A influência da aquicultura
O rápido crescimento da aquicultura aumentou o número de fazendas marinhas e fez da Noruega a maior exportadora mundial de salmão de cativeiro, remodelando o litoral do país em um grande complexo industrial submerso.
As gaiolas flutuantes com muitos peixes em pequenos espaços se tornam o ambiente ideal para a proliferação de doenças e parasitas, incluindo o piolho-do-mar, que ataca a pele e as escamas dos salmões selvagens.
No mais, salmões criados em cativeiro que escapam das fazendas frequentemente se inserem nos rios, cruzando-se com salmões selvagens e prejudicando seu patrimônio genético.
De acordo com a Norwegian Wild Salmon Alliance, ONG dedicada à proteção do patrimônio do salmão selvagem, mais de 40% das populações fluviais já apresentaram sinais de hibridização genética com salmões de fazenda. Essa situação reduz a resistência natural da espécie, deteriora a sua habilidade de migração e torna mais vulneráveis os alevinos.
“O salmão selvagem é geneticamente adaptado ao seu rio natal. A contaminação genética é uma ameaça silenciosa, porém mortal", afirma Marit Lunde, especialista em ecologia fluvial da Universidade de Bergen.
Mudanças climáticas
As mudanças climáticas também influenciam a extinção do salmão selvagem. O aumento das temperaturas médias nos oceanos e rios tem mudado os padrões migratórios dessa espécie e afetado sua taxa de reprodução.
Nos últimos verões, pesquisadores da Noruega notaram que as águas estão chegando mais cedo e a temperaturas mais altas do que o habitual, o que prejudica o ciclo de vida dos salmões jovens.
Também, a falta de alimentos no oceano, causada pela acidificação e pelo desequilíbrio ecológico, impacta a quantidade de peixes que conseguem retornar aos rios para desovar. “O salmão selvagem precisa de águas frias, limpas e ricas em oxigênio. O aquecimento global e a poluição estão tirando isso dele”, explica o climatologista Olav Heggem.
Falha na política ambiental
Mesmo com os alertas da comunidade científica e ambiental, o governo da Noruega é pressionado pela indústria da aquicultura, que gera bilhões de dólares em exportações anualmente.
Organizações como a Atlantic Salmon Trust têm cobrado políticas mais rigorosas, como limitar a expansão das fazendas marinhas, criar áreas livres de piscicultura em regiões críticas para o salmão selvagem e implementar regulamentações mais severas contra a fuga de peixes.
Como resposta, o Ministério do Clima e Meio Ambiente da Noruega declarou que está “reavaliando a regulação das zonas costeiras e desenvolvendo um plano nacional de proteção ao salmão selvagem”, mas não informou sobre prazos ou medidas concretas.
Perda de uma joia ambiental
O salmão selvagem norueguês é classificado pela Lista Vermelha de Espécies da Noruega como “em risco crítico” em várias bacias hidrográficas. De símbolo nacional, ele se tornou uma espécie em desaparecimento, afetada por uma combinação letal de indiferença política, exploração comercial e colapso ambiental.
A ausência desse peixe nos rios e mercados tradicionais já começa a ser notada. O pescador aposentado Arne Jakobsen, de 72 anos, é mais uma das pessoas indignadas com a extinção da espécie.“É tão raro que hoje é tratado como iguaria de luxo. Em muitas comunidades pesqueiras, os jovens sequer conhecem o sabor do verdadeiro salmão selvagem”, lamenta.
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